A cirurgia cardíaca é uma área da medicina que avança continuamente, trazendo esperança e melhorando as opções de tratamento para pacientes com doenças cardíacas complexas. No entanto, a recuperação pós-operatória apresenta desafios significativos, particularmente em relação à ventilação mecânica prolongada (VMP). A VMP está associada a um aumento da morbidade e mortalidade, além de elevar os custos do cuidado hospitalar. Neste contexto, a identificação precisa de pacientes com alto risco de VMP é crucial para melhorar os desfechos clínicos e otimizar a utilização de recursos.
Escore ANZ-PreVent e Escore de Hessels et al.
Recentemente, escores de risco como o ANZ-PreVent, desenvolvido por O’Brien et al. (2024), e o escore de Hessels et al. (2019) têm oferecido ferramentas valiosas na predição de VMP. O ANZ-PreVent é uma classificação aprimorada que foi validada em uma ampla coorte de pacientes e demonstrou alto desempenho estatístico, superando outras pontuações de gravidade da doença previamente utilizadas. Por outro lado, o estudo de Hessels et al. introduziu um escore preditivo baseado em uma análise robusta e multivariada de variáveis pré, intra e pós-operatórias, oferecendo insights valiosos sobre os fatores de risco de VMP.
Metodologia e aplicabilidade clínica
A metodologia dessa classificação envolve a identificação de variáveis clínicas e cirúrgicas que influenciam o risco de VMP, como idade do paciente, histórico de comorbidades, detalhes do procedimento cirúrgico e medidas de função orgânica pré-operatória. O escore de Hessels et al. e o ANZ-PreVent aplicam técnicas estatísticas avançadas para estratificar os pacientes de acordo com o risco de VMP, permitindo aos médicos personalizar o cuidado pós-operatório e informar a tomada de decisões cirúrgicas.
Implementação dos escores e estratégias de cuidado
Para implementar esses escores de maneira eficaz, é essencial coletar os dados relevantes e consultar as publicações originais que detalham a metodologia e as ponderações das variáveis.
Instituições de saúde devem adaptar suas práticas de coleta de dados e análise para alinhar-se com os critérios especificados nos estudos. O treinamento de equipes multidisciplinares é fundamental para assegurar a correta aplicação e interpretação dos escores na prática clínica.
Futuras direções e pesquisa
A pesquisa sobre escores de risco para VMP em cirurgia cardíaca é um campo em evolução. Estudos futuros podem focar na validação deles em diferentes populações de pacientes, em contextos clínicos variados e na integração em sistemas de saúde digitais. Essa abordagem promove uma medicina mais personalizada e baseada em evidências, melhorando o manejo de pacientes cirúrgicos cardíacos.
Diante do risco de VMP: qual o próximo passo?
Antes de chegarmos à conclusão deste estudo, é essencial abordar uma questão crítica: “E se o meu paciente tiver um escore de médio ou alto risco para ventilação mecânica prolongada (VMP), o que fazer?” Uma estratégia promissora é a utilização da estimulação diafragmática temporária. Esta tecnologia inovadora oferece uma solução eficaz para evitar a VMP, atuando diretamente sobre a musculatura diafragmática para fortalecê-la e melhorar sua função durante o período crítico pós-operatório. O uso de um eletrodo temporário de estimulação diafragmática, implantado durante a cirurgia cardíaca, pode ser uma medida preventiva valiosa para pacientes identificados com um risco elevado de VMP, guiando os profissionais de saúde na personalização do cuidado pós-operatório e na redução de complicações associadas à ventilação mecânica.
O desenvolvimento e a implementação de escores de risco para VMP representam um avanço significativo na medicina cardiovascular. Essas ferramentas baseadas em evidências melhoram a estratificação de risco e permitem a personalização dos planos de tratamento, contribuindo para a melhoria dos desfechos dos pacientes e otimização dos recursos hospitalares. A colaboração contínua entre pesquisadores, clínicos e profissionais de saúde é vital para maximizar os benefícios desses escores na prática médica e no cuidado dos pacientes submetidos a cirurgias cardíacas.
Texto elaborado por: Renan Anicet – renan.anicet@jomhedica.com.b